Apanhados na rede. História de amor

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A desculpa de que a cara metade está do outro lado do mundo, perdida, já não é válida. Através da “rede” tudo é possível, consequência de um mundo ligado pelas novas tecnologias. Para melhor perceber as histórias que aqui se contam: ICQ e mIRC são “chats” onde as pessoas se encontram e podem teclar; sendo que “teclar” é a soma de conversar mais teclado de computador.

Carolina (nome fictício) tem 38 anos, é divorciada e tem uma filha. No ano passado descobriu o poder da internet. Sob um “nick” no ICQ em pouco tempo conheceu António (nome fictício), dez anos mais novo.

«Foi ele que se meteu comigo. As primeiras conversas foram normais: onde moras, o que fazes, etc. Algum tempo depois convidou-me para beber café. Já o achava simpático, mas pessoalmente ainda o achei mais. Talvez pelos olhos e pelo sorriso. A descrição que tinha feito de si era verdadeira», conta Carolina.

Alguns encontros depois, na net e “ao vivo”, os dois cibernautas decidiram arriscar numa relação. Durou seis meses. «Tanto quanto poderia durar uma relação com alguém que tivesse conhecido de forma “tradicional”», justifica Carolina.

«Por muito estranho que possa parecer acho que nos podemos conhecer melhor pelo ICQ. É mais fácil abrirmo-nos com alguém que não estamos a ver. Além disso, nos bares e nas discotecas, com o barulho, ninguém consegue ter grandes conversas», remata.

Outro caso, o mesmo fim. Lara (“nickname”) conheceu Xiku (“nickname”) no mIRC. Lara convidou-o para um “privado” e durante um mês teclaram todos os dias: «Ganhámos confiança e confesso que comecei a achar-lhe muita piada, a sentir-me atraída. Mesmo sem o ter visto», conta a cibernauta.

Um dia Xiku pediu o número de telemóvel e ligou-lhe… às quatro da madrugada. «Estivemos meia hora na conversa», recorda. No dia seguinte trocaram-se as primeiras fotos. Um tempo depois Lara viajou até Beja para finalmente se encontrarem. O romance durou um ano e meio. Depois cada um seguiu o seu caminho.

Na verdade, Lara continua pelo mIRC. Gosta de teclar com pessoas novas e que tenham em comum consigo os gostos pela música e literatura. E se voltar a conhecer um novo amor? «Porque não? Tudo é possível».

A história de Dina tem um final mais feliz. Conheceu Dip através de um “chat”, quando passava férias no Canadá. Dip morava na Índia.

Regressou a Portugal e continuaram a teclar sempre que podiam. Ao fim de dois meses Dip veio a Portugal conhecê-la. Passou um ano e já estiveram juntos quatro vezes. Agora é ela que está na Índia. Com casamento marcado para o próximo ano.

Falta escolher o país para a cerimónia. E para não terem de optar por um dos países de origem vão viver para Paris – em lugar neutro.

Para o psicólogo Daniel Sousa, que desenvolve o seu trabalho no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), os amores internáuticos não podem ser considerados novidade, chamando a atenção para o facto de que «ainda há quem publique anúncios em jornais na busca de uma relação».

A internet surge assim como mais um meio onde se podem estabelecer diversos tipos de relações, sendo as amorosas apenas uma delas. «É um meio onde se estabelecem relações inter-pessoais de vários tipos e onde a presença da informação é extremamente importante». A vantagem desta tecnologia é para Daniel Sousa o facto de tudo ser «mais rápido, mais barato e nos levar mais longe», termina.

Ou seja, as fórmulas do amor são sempre as mesmas, o que muda são os meios. Já ninguém escreve cartas de amor. Mandam-se e-mails. Já ninguém conversa, tecla-se. No liceu longe vai o tempo em que se colocavam estrategicamente bilhetinhos de amor nas mochilas ou carteiras. Hoje mandam-se SMS: “Kero-te mt”, dizem.

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