O que se passa connosco quando nos apaixonamos?

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O ENCÉFALO, OS NEUROTRANSMISSORES E A PAIXÃO

O chamado diencéfalo ou cérebro primitivo, comum a todos os mamíferos, intervém, através do hipotálamo, no desejo, no interesse sexual e também recolhe as informações que chegam do exterior e das hormonas, controlando-as e dando as respostas da excitação sexual, ejaculação, sensações de prazer e regulando as respostas emocionais e afectivas no comportamento sexual.

O sistema límbico discrimina e selecciona os estímulos, reconhecendo os sinais de satisfação e inibindo o comportamento sexual.

A nossa sexualidade apresenta-se não apenas ao nível dos estímulos (visuais,fantasias ,etc) , como também na participação muito importante da emoção e sobretudo na aprendizagem. Algumas partes do nosso cérebro relacionam o ambiente e a cultura às nossas respostas sexuais. O resultado pode ter maior ou menor eficácia dando aos parceiros, maior ou menor prazer.

Razão, fantasia, emoção e aprendizagem se misturam em nosso cérebro dando respostas curiosas no dia a dia sexual do ser humano.

Os neurotransmissores cumprem uma função indispensável na ativação do impulso sexual, como por exemplo, quando as carícias e beijos levam a lubrificação vaginal e à ereção peniana.

Os cientistas conhecem a feniletilamina (um dos mais simples neurotransmissores) há cerca de 100 anos, mas só recentemente começaram a associá-la à paixão. Ela é uma molécula natural semelhante à anfetamina e suspeita-se que a sua produção no cérebro possa ser desencadeada por eventos tão simples como uma troca de olhares ou um aperto de mãos.

O “affair” da feniletilamina com a paixão teve início com uma teoria proposta pelos médicos Donald F. Klein e Michael Lebowitz, do Instituto Psiquiátrico Estadual de Nova Iorque. Eles sugeriram que o cérebro de uma pessoa apaixonada continha grandes quantidades de feniletilamina, e que esta substância poderia responder, em grande parte, pelas sensacções e modificações fisiológicas que experimentamos quando estamos apaixonados.

OS SENTIDOS E A PAIXÃO

VISÃO

A visão é, provavelmente, a fonte de estimulação sexual mais importante que existe.

No homem, existem numerosos estímulos visuais envolvidos na atracção sexual, que vão muito além da visão dos genitais do sexo oposto. A forma de mover-se, um olhar, um gesto, inclusive a forma de vestir-se, são estímulos que, enquanto potencializam a capacidade de imaginação do ser humano, podem resultar mais atraentes que a contemplação pura e simples de um corpo nu.

Segundo o neurobiólogo James Old, o amor entra pelos olhos.

AUDIÇÃO

No homem, a aparição da linguagem representa um passo muito mais avançado como meio de solicitação sexual. Em praticamente todas as sociedades humanas, o uso de frases e canções amorosas constitui um dos preliminares mais habituais. Libertado o cérebro da carga social, uma frase erótica, sussurrada ao ouvido, pode resultar tão incitadora quanto um bramido de elefante na imensidão da selva.

De acordo com investigações do Krasnow Institute for Advanced Study of George Mason University, não só as primeiras palavras, mas também os tons de voz deverão responder aos padrões de saúde e genética desejados na escolha do(a) parceiro(a).

TACTO:

A pele com a qual amamos!

A superfície do corpo humano, com aproximadamente dois metros quadrados de extensão é, poderíamos dizer, o maior órgão sexual do homem. Mais do que simplesmente um dos sentidos, o tacto é a resultante de muitos ingredientes: sensibilidades superficiais (epidérmicas e dérmicas), profundas – como a proprioceptiva, ligada ao movimento -, vontade de explorar e actividade motora, emoções, memória, imaginação.

Existem cerca de cinco milhões de receptores do tacto na pele – as pontas dos dedos tem uns 3.000 que enviam impulsos nervosos ao cérebro através da medula. O tacto é provavelmente o mais primitivo dos sentidos. É a mais elementar, talvez a mais predominante experiência do ser humano, mesmo naquele que ainda não chegou a nascer. O bebé explora o mundo pelo tacto. Assim, descobre onde termina seu corpo e onde começa o mundo exterior. Esse sentido é seu primeiro guia.

Imagem: BEAR, M.F., CONNORS, B.W. & PARADISO, M.A. Neurociências – Desvendando o Sistema Nervoso. Porto Alegre 2ª ed, Artmed Editora, 2002.

O sentido do tacto proporciona um contato imediato com os objetos percebidos e, na relação humana, é uma experiência inevitavelmente recíproca: pele contra pele provoca imediatamente um nível de conhecimento mútuo. Na relação com o outro, não é possível experimentá-la.

Imagem: BEAR, M.F., CONNORS, B.W. & PARADISO, M.A. Neurociências – Desvendando o Sistema Nervoso. Porto Alegre 2ª ed, Artmed Editora, 2002.

Encontramos homens com problemas sexuais que não beijam, não abraçam e nem acariciam sua parceira. Para quê? Pensam eles. Este modelo de comportamento impede que muitos casais desfrutem do prazer que pode proporcionar o simples facto de dar e receber carícias.

A estimulação táctil é uma necessidade básica, tão importante para o desenvolvimento como os alimentos, as roupas, etc.. O contacto físico é a forma de comunicação mais íntima e intensa dos seres humanos, segundo alguns estudos, até os mais insignificantes contactos físicos têm notáveis efeitos.

Nós realmente “sentimos com o olho da mente” – Uma região do cérebro envolvida no processamento do sentido da visão é também necessária para o sentido do tacto. Resultados da Universidade de Emory, que confirmam o papel do córtex visual na percepção táctil (toque), foram publicados na edição da revista Nature de 06/10/1999.

As conclusões do estudo são relevantes para o entendimento de não apenas como o cérebro normalmente processa a informação sensorial, “mas também como o processamento é alterado em condições como cegueira ou surdez, principalmente, para melhoria dos métodos de comunicação em indivíduos que sofrem de tais desordens”, de acordo com Krishnankutty Sathian, Ph.D.

Até recentemente, cientistas acreditavam que regiões separadas do cérebro processavam a informação advinda de vários sentidos. Essa ideia foi desafiada. As descobertas recentes de que o córtex visual de deficientes visuais é ativado durante a leitura em Braille não são tão surpreendentes se apreciadas por este contexto. Os resultados obtidos pelo grupo de pesquisa demonstram que uma região do córtex cerebral, associada à visão, é ativada quando os humanos tentam distinguir a orientação através do tacto.

Juntamente aos depoimentos subjetivos da imagem visual e a activação cortical parieto-occiptal associada, as descobertas levam a crer que o processamento visual facilita a discriminação táctil normal de orientação. Isso, provavelmente, está relacionado ao facto de que geralmente confiamos no sistema visual para nos orientarmos.

PALADAR

Desde muito cedo, a boca é a primeira fonte de prazer. Com 16 semanas de vida, além de fazer caretas, levantar as sobrancelhas e coçar a cabeça, as papilas gustativas já estão desenvolvidas. A experiência tem demonstrado que o feto faz caretas e para de engolir quando uma gota de substância amarga é colocada no líquido amniótico. Por outro lado, uma substância doce provoca a aceleração dos movimentos de sucção e deglutição.

Aliás, o prazer do paladar continua na fase em que o bebé se amamenta através do mamilo da mãe. Daí para frente, o paladar fica cada vez mais apurado.

A zona bocal é a última parte a adquirir todas as formas e recortes finais, embora seja a primeira a sentir as emoções iniciais da vivência.

A língua é a base de todo o paladar e a boca é uma das partes mais sensíveis do corpo e mais versáteis. Um beijo combina os três sentidos de tacto, paladar e olfato. Favorece o aparelho circulatório, aumenta de 70 para 150 os batimentos do coração e beneficia a oxigenação do sangue. Sem esquecer que o beijo estimula a liberação de hormonas que causam bem-estar. Detalhe: na troca de saliva, a boca é invadida por cerca de 250 bactérias, 9 miligramas de água, 18 de substâncias orgânicas, 7 decigramas de albumina, 711 miligramas de materiais gordurosos e 45 miligramas de sais minerais. As terminações nervosas reagem ao estímulo erótico e promovem uma reação em cadeia. Ao mesmo tempo, as células olfativas do nariz – mais próximas da boca – permitem tocar, cheirar e degustar o outro.

OLFATO

O amor não começa quando os olhares se encontram, mas sim um pouco mais em baixo, no nariz. “Há circuitos que vão do olfato até o cérebro e levam uma mensagem muito clara: sexo”, explica Maria Rosa García Medina, especialista em sentidos químicos do Laboratório de Pesquisas Sensoriais do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina.

Alguns pesquisadores afirmam que exalamos continuamente, pelos bilhões de poros na pele e até mesmo pelo hálito, produtos químicos voláteis chamados ferormônas.

Estudos têm demonstrado que a maior parte das espécies de vertebrados tem um órgão situado na cavidade nasal denominado órgão vomeronasal (OVN). A finalidade do OVN parece ser exclusivamente a de detectar sinais químicos – as ferormônas – envolvidos no comportamento sexual e de marcação de território.

Atualmente, existem evidências intrigantes e controvertidas de que os seres humanos podem se comunicar com sinais bioquímicos inconscientes. Os que defendem a existência das ferormônas baseiam-se em evidências mostrando a presença e a utilização de feromônas por espécies tão diversas como borboletas, formigas, lobos, elefantes e pequenos símios. As feromônas podem sinalizar interesses sexuais, situações de perigo e outros.

Os defensores da Teoria das ferormônas vão ainda mais longe: dizem que o “amor à primeira vista” é a maior prova da existência destas substâncias controvertidas. As ferormônas produzem reações químicas que resultam em sensações prazerosas. À medida em que nos vamos tornando dependentes, a cada ausência mais prolongada nós dizemos “apaixonados” – a ansiedade da paixão, então, seria o sintoma mais pertinente da Síndrome de Abstinência de Feromônas.

Com ou sem ferormônas, é de facto que a sensação de “amor à primeira vista” relaciona-se significativamente a grandes quantidades de feniletilamina, dopamina e norepinefrina no organismo. E voltamos à questão inicial: até que ponto a paixão é simplesmente uma reação química?

Um tradicional exemplo do estreito vínculo entre olfato e desejo é a síndrome de Kalman, um quadro genético de alteração hormonal que prejudica a puberdade e que está acompanhado por uma ausência congénita do olfato. Com a ajuda de tratamento, esses pacientes chegam a ter níveis normais de hormônas, mas não recuperam o olfato e isso têm efeitos diretos em sua vida afetiva.

O laboratório canadense Pheromone Sciences Corp. isolou e caracterizou os diversos ferormônas extraídas do suor. Uma primeira pesquisa revelou que o composto pode estimular a libido em homens e mulheres. Os pesquisadores esperam que, num futuro não muito distante, esse derivado de ferormônas possa servir como tratamento efetivo e seguro para determinadas disfunções sexuais. Inclusive como complemento de remédios como o Viagra.

“Alguns derivados de ferormônass já são usados para casos de frigidez feminina e ajudam na primeira etapa da sexualidade, que é o desejo”, afirma García Medina. “Isso pode ter um grande potencial noutros tipos de disfunções sexuais, mas ao mesmo tempo, reacende questões éticas: É lícito interferir dessa forma no comportamento de uma pessoa?”

Há duas décadas atrás, cientistas europeus conseguiram reproduzir ferormônas em laboratório. Alguns anos mais tarde, empresários americanos compraram a fórmula, fabricaram o produto em quantidades industriais e engarrafaram-no em belos vidrinhos. Agora, as tais ferormônas estão à venda na Internet. É a ciência médica interferindo na nossa vida sexual, uma arma que ajudará nas suas conquistas”. Segundo os responsáveis pelo produto, o sujeito que utilizar a poderosa colônia atrairá todos os olhares femininos, gerando “mais contatos imediatos e, sem dúvida, uma vida sexual mais activa do que poderia um dia imaginar, não importa a sua aparência, não importa o nível social. Onde quer que você esteja, passará a chamar muita atenção. Mas será que funcionam mesmo? Como você já deve ter percebido, o mesmo perfume ou loção após a barba, exala diversos cheiros em diferentes pessoas, especialmente naquelas do sexo oposto. À medida que a fragrância vaporiza e interage com nossa química própria, várias mudanças do aroma tornam-se perceptíveis

Tirando todos os tubos de ensaio de sofisticados laboratórios e reações químicas e moléculas citoplasmáticas, afinal, deverá haver algo mais entre o céu e a terra…

Mas, de qualquer forma, quando pronunciármos que temos uma química por alguém, o mais provável é que estejamos literalmente certos!

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