Tradição das 7 saias Nazarenas

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Bem, como está muito frio, gostaria de apelar às férias. Todos os anos costumo acampar na Nazaré. Esta vila/cidade é detentora de uma cultura muito forte, de uma praia de “encher o olho”, de uma vista fantástica e de um peixinho fresquinho excelente.

De origem relativamente recente, a Nazaré “nasceu” do recuo do mar e do assoreamento progressivo da praia durante o século XVII, começando a ser conhecida e frequentada como praia de banhos apenas em meados do século XIX.

A população nazarena tem as suas raízes muito ligadas a outros marítimos como os Ílhavos e outros povos da Ria de Aveiro, que trouxeram com eles para a Nazaré não só novas artes de pesca, mas também o modo de vestir e até de falar. Ao longo dos anos essas novas maneiras foram aqui evoluindo, transformando-se e adaptando-se às necessidades da vida.

É normal ver as nazarenas (mulheres da Nazaré) vestidas com 7 saias. Isto tem a sua lógica.

As sete saias fazem parte da tradição, do mito e das lendas desta terra tão intimamente ligada ao mar. Diz o povo que representam as sete virtudes; os sete dias da semana; as sete cores do arco-íris; as sete ondas do mar, entre outras atribuições bíblicas, míticas e mágicas que envolvem o número sete.

A sua origem não é de simples explicação e a opinião dos estudiosos e conhecedores da matéria sobre o uso de sete saias não é coincidente nem conclusiva. No entanto, num ponto todos parecem estar de acordo: as várias saias (sete ou não) da mulher da Nazaré estão sempre relacionadas com a vida do mar. As nazarenas tinham o hábito de esperar os maridos e filhos, da volta da pesca, na praia, sentadas no areal, passando aí muitas horas de vigília. Usavam as várias saias para se cobrirem, as de cima para protegerem a cabeça e ombros do frio e da maresia e as restantes a taparem as pernas, estando desse modo sempre “compostas”.

A introdução do uso das sete saias foi feito, segundo uns, pelo Rancho Folclórico Tá-mar nos anos 30/40, segundo outros pelo comércio local no anos 50/60 e ainda de acordo com outras opiniões as mulheres usariam sete saias para as ajudar a contar as ondas do mar (isto porque “ o barco só encalhava quando viesse raso, ora as mulheres sabiam que de sete em sete ondas alterosas o mar acalmava; para não se enganarem nas contas elas desfiavam as saias e quando chegavam à última, vinha o raso e o barco encalhava”).

O uso de várias saias pelas mulheres da Nazaré também está ligada a razões estéticas e de beleza e harmonia das linhas femininas – cintura fina e ancas arredondadas, (esta poderá ser também uma reminiscência do traje feminino de setecentos que as damas da corte usavam – anquinhas e mangas de renda – e que pavoneavam aquando das visitas ao Santuário da Senhora da Nazaré), podendo as mulheres usarem 7, 8, 9 ou mais saias de acordo com a sua própria silhueta. Certo é que a mulher foi adoptando o uso das sete saias nos dias de festa e a tradição começou e continua até ao presente. No entanto, no traje de trabalho são usadas, normalmente, um menor número de saias (3 a 5).


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